Publicada em 27/09/2023
A
decisão da Rússia de suspender, na última quinta-feira, as exportações de
diesel e gasolina, em meio a uma escassez interna desses produtos, deve
impactar o mercado brasileiro e pressionar a Petrobras por reajustes de preços
nas refinarias, o que pode ter efeito sobre a inflação. Sob sanções comerciais
da Europa após a invasão da Ucrânia, os russos se tornaram, neste ano, o maior
fornecedor externo de diesel ao Brasil, deixando para trás os Estados Unidos,
tradicionais exportadores do combustível.
Apenas
em agosto, o diesel russo foi responsável por mais de 70% do volume importado
pelo Brasil, que ainda tem forte dependência externa, importando entre 25% e
30% de sua necessidade desse combustível.
A
suspensão anunciada por Moscou tem o objetivo de enfrentar o aumento de preços
no país governado por Vladimir Putin. No entanto, não foi estabelecido um prazo
para o término das restrições. O preço da gasolina na Rússia disparou e
alcançou máximas históricas na última semana, em parte devido ao
enfraquecimento do rublo, além do aumento dos preços internacionais do petróleo
e do período sazonal de manutenção de refinarias, que restringe a oferta.
Serão mantidas algumas exceções à
suspensão, permitindo exportações apenas para países da União Econômica
Eurasiática (formada por Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão, além
da Rússia) e para fins de ajuda humanitária.
"As restrições temporárias
ajudarão a abastecer o mercado [interno] de combustíveis, o que levará a uma
redução dos preços ao consumidor", informou o governo russo, em nota.
Impacto em diversos setores
A redução da oferta para países importadores e quaisquer aumentos de preço não
são importantes apenas para os comerciantes de petróleo e caminhoneiros. O
combustível do tipo diesel também é utilizado em navios e trens, bem como nos
setores agrícola, industrial e de construção, alimentando vastas áreas da
economia global.
O economista do Instituto de
Ensino e Pesquisa (Insper) Otto Nogami ressaltou que, evidentemente, haverá uma
reação em cadeia que impactará os preços aos consumidores e pressionará a
inflação, dado o relevante papel que o diesel desempenha na economia. "A
majoração dos preços do diesel irá impactar os custos de produção, bem como os
preços dos produtos no varejo, o que pressiona para uma alta da inflação",
afirmou Nogami.
Dependência da importação
Segundo Mahatma dos Santos, diretor técnico do Instituto de Estudos
Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), os reais
impactos da interrupção para o mercado brasileiro dependem da extensão temporal
da medida. "Apesar da expansão da cadeia produtiva de óleo de gás no
Brasil, nas últimas décadas, ainda temos uma dependência significativa da
importação de derivados do petróleo, por isso os preços dos combustíveis são
bastante impactados pela volatilidade internacional", observou.
A Petrobras atingiu em agosto um
novo recorde na produção de combustíveis, com as refinarias operando a 97,3% da
capacidade total, marca que não era alcançada desde dezembro de 2014. A
produção de diesel chegou a 3,78 bilhões de litros, a maior do ano.
O desempenho, porém, não foi
suficiente para beneficiar diretamente o consumidor brasileiro, visto que o
diesel registrou alta de 8,54% e a gasolina, de 1,24%, segundo dados do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do
país. O indicador aponta que os combustíveis já vêm, desde julho, em uma
tendência de alta que deve persistir com a suspensão das exportações russas.
Paridade internacional
A inflação chegou a cair entre maio e junho, após a Petrobras anunciar o fim do
Preço de Paridade de Importação (PPI), que vinculava seus preços ao mercado
externo No entanto, a mudança não foi suficiente para conseguir baixar de
maneira significativa o preço dos combustíveis, que voltou a subir em seguida,
com o retorno da cobrança de impostos e também um reajuste anunciado pela
estatal no último mês.
Para o diretor do Ineep, o
principal gargalo para reduzir os preços é a dependência de insumos externos,
como os derivados de petróleo importados da Rússia, e a falta de investimentos
em refinarias. "Temos uma deficiência histórica na capacidade produtiva
brasileira. Apesar de termos petróleo, há uma capacidade reduzida nos parques
de refino, que hoje são propriedade privada no Brasil", observou Mahatma
dos Santos.
Refinarias privadas vendem mais
caro
Segundo dados do Observatório Social do Petróleo (OSP), desde o fim do PPI,
refinarias privadas venderam diesel e gasolina 10% mais caro do que a
Petrobras. Elas produziram 13% do total de gasolina nacional e 12% de diesel
S-10. Para Eric Gil Dantas, economista da organização, o efeito da nova
política de preços da petroleira tem que ser entendido como restrito à sua real
dimensão no mercado. "Todas estas refinarias privadas vendem seus produtos
com preços acima da Petrobras, acompanhando, ou muitas vezes até acima, os
preços internacionais", disse.
Para Dantas, a "dependência
externa de um produto que poderíamos produzir em solo nacional é sempre
ruim". "Quando importamos diesel estamos exportando emprego. A
situação é ainda mais dramática quando exportamos petróleo cru e importamos
diesel. Somos autossuficientes em petróleo e, para eliminar a dependência
externa bastaria expandir nossas refinarias", apontou.
FONTE:
Agrolink
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